Amanhã (02) será realizada a 47ª Carreata e Procissão para celebrar Iemanjá
Dia de Iemanjá recebe procissão nos rios Iguaçu e Paraná será puxada pela embarcação Kattamaram.
Nesta quinta-feira, 2, Foz do Iguaçu vai registrar a 47ª a Carreta e Procissão em celebração ao dia de Iemanjá. Embora não haja números oficiais de adeptos e casas disponíveis, pessoas de todas as etnias da cidade são representadas na religião
O Dia de Iemanjá, a Rainha das Águas ou Rainha do Mar, é celebrado em Foz do Iguaçu há 47 anos. Desde o dia 2 de fevereiro de 1976, quando a ialorixá, ou mãe de santo, Benedita de Nanã fundou o Templo Reino de Oxalá, no Dia de Iemanjá. O templo e a Procissão de Iemanjá nas águas dos rios Iguaçu e Paraná nasceram juntos. E deu certo.
Quatro anos após a fundação da Casa da Vó Benedita, o jornal Nosso Tempo, de dezembro de 1980, dedicava duas páginas ao fenômeno que invadira a Terra das Cataratas. A capa do jornal chamou a atenção de quem se dirigiu às bancas de jornais e revistas da cidade. Em letras maiúsculas, enormes, a manchete SARAVÁ FOZ DO IGUAÇU ocupava pelo menos três quartos da página. Segundo a reportagem do semanário, a Festa de Iemanjá, na época da publicação, já levava até 2.500 pessoas às margens do Rio Iguaçu.
Em conversa com os jornalistas do pioneiro Nosso Tempo, a Vó Benedita contou que até a fundação do Reino de Oxalá, em Foz do Iguaçu, justo quando a cidade começava a se preparar para crescer, as religiões de matriz afro-brasileiras não gozavam do reconhecimento das autoridades.
Hoje, fazendo uma retrospectiva, nada impede de ver a Vó Benedita não só como a fundadora da primeira casa de umbanda e candomblé em Foz do Iguaçu, como a precursora da expansão das religiões afro-brasileiras para o Paraguai, Argentina e até Uruguai.
A sede da primeira casa afro-brasileira na cidade ficava em uma das travessas que dava acesso à antiga Rodoviária de Foz do Iguaçu, no centro. A casa era uma referência procurada por fiéis, curiosos, imprensa e clientes, já que ali também eram vendidos produtos religiosos.
Foi para esse endereço que Amanda Villalba, ex-funcionária da representação paraguaia da linha aérea Ecuatoriana de Aviación em Assunção, dirigiu-se um dia para consulta. Foi atendida e ficou encantada. Ela se tornou filha da casa. “Cheguei em Foz no dia 11 de novembro de 1980 e, em 30 de janeiro de 1981, casei com João Carlos Vieira, filho e trabalhador do Reino de Oxalá.”
Mais tarde, João Carlos, já com o nome de Pai Adigun Eledumare (em memória), e (Mãe) Iya Amanda abriram o templo Ile Ase Iga Ode, que mantém o compromisso de não deixar de comemorar o Dia de Iemanjá.
Coexistência
A Festa de Iemanjá continua sendo celebrada. “Um ano vem mais gente do que outros”, disse a ialorixá. Neste ano, a procissão será numa quinta-feira e tradicionalmente é feito nas águas do Rio Iguaçu, através da embarcação Kattamaram II.
A Festa de Iemanjá, com direito a carreata entre a Praça da Paz e as margens do Rio Iguaçu, é organizada pela Associação Ile Ase Iga Ode, pelo Templo Reino de Oxalá, aquele fundado pela Vó Benedita, o Templo Luz de Oxalá e a Associação do Povo de Terreiros, com o apoio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Relações com a Comunidade e da Fundação Cultural, com as bênçãos da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, da Igreja Apostólica Brasileira, também com sede no vanguardista bairro do Porto Meira.
Depois, logo à frente, o Kattamaram faz uma evolução de 180º, voltando em direção ao lugar exato onde o Rio Iguaçu desemboca no Rio Paraná. Aquele lugar chamado foz, onde as águas escuras do Iguaçu se encontraram com as águas mais barrentas do Paraná sem se misturarem.
Oferendas a Iemanjá
Mães de santo (ialorixás), filhos e simpatizantes a bordo do barco se dirigem a estibordo (lado direito, na linguagem dos navegantes), próximo à proa, que apontava na direção do Paraguai, lançam na água os presentes para Iemanjá. Os presentes são simples, destacando as rosas amarelas e brancas. As flores e ofertas cruzam o encontro das águas e tomam o rumo do canal principal em direção ao mar.
Iemanjá é conhecida no mundo todo como Yemanjá, Yemaya ou Yemọja, em iorubá, língua africana amplamente falada na Nigéria. O vocábulo vem da junção de três palavras nessa língua: iye (mãe), omọ (criança) e eja (peixe). Uma das traduções aceitas é “A mãe cujos filhos são peixes”.
Jackson Lima, jornalista, escritor e historiador
Fotos: Arquivo pessoal