Morte de um dos primeiro ornitólogo do Oeste do Paraná completa 100 anos em 2023
Tadeusz Chrostowski mais que um cientista polonês sepultado às margens da Estrada Velha de Guarapuava na região da cidade de Matelândia/PR
Por Jackson Lima*
Ai que inveja! O currículo do polonês Tadeusz Chrotowski é admirável. Veja só. Ele nasceu (1878) na (até hoje) pequena cidade de Kamionka, na província de Lublin, condado de Lubartów, na Polônia, na época sob domínio russo. Morreu (1923) em um local chamado de Pinheirinhos, na época parte de Foz do Iguassu, lugar que já não existe, tendo sido sepultado ao lado da estrada hoje dentro do Parque Nacional do Iguaçu em área hoje pertencente ao município de Matelândia.
Ele, igual a um grupo super seleto de imigrantes (colonos), logo depois de chegar nas matas do Paraná, ou do Novo Mundo, em um lugar chamado Guarani verá, hoje parte de Antonio Olinto (PR), decidiu que esse negócio de derrubar árvores e fazer roça não era para ele. Daí largou tudo e embarcou numa viagem de admiração e êxtase com a beleza da Natureza no Estado com a intenção de fazer ciência.
Assim ele entra na categoria de “colonos” cientistas como o suíço Moisés Bertoni que nasceu na Suíça, morreu em Foz do Iguaçu e está sepultado em Presidente Franco no Paraguai dentro do Monumento Científico (uma categoria no serviço de parques nacionais) que leva seu nome. Durante a viagem que fez com o zoólogo Tadeusz Janczewski, os dois visitaram Porto Bertoni e foram recebidos pelo cientista e naturalista Bertoni. Sobre esta visita Janczewski escreveu: “Fizemos uma pequena excursão a Porto Bertoni, residência do bem conhecido naturalista Sul Americano Dr. M.S. Bertoni; este lugar está situado não longe de Foz do Iguaçu, à jusante do Rio Paraná, lado direito i.e. Margem Paraguaia. Fomos muito cordialmente recebidos pelo Dr. Bertoni e visitamos seu ótimo jardim botânico bem como o seu museu local…” *
Das viagens paranaenses de Chrostowski saíram as primeiras anotações e registros sobre a fauna ornitológica do Paraná. Ele amava tudo o que via. Mas foram os pássaros que mais tocou o coração e a mente do investigador. Por isso, foi dele a primeira obra sobre os pássaros do Paraná publicada, é claro na Polônia e em polonês. Vale destacar isso. A Polônia estava sob domínio da Rússia e o governo russo não bancava, patrocinava ou apoiava obras que não fosse em russo. A resposta de Tadeusz veio na forma da publicação em bom e claro polonês: Kolekcya ornitológiczna ptaków paranskich ou “Coleção Ornitológica de Pássaros Paranaenses”, (obrigado Tradutor do Google). A primeira obra da ornitologia paranaense é polonesa. Maravilha!
O túmulo de Tadeusz Chrostowski era do conhecimento dos moradores da região lindeira ou do entorno do Parque Nacional do Iguaçu. Em 2018, a Revista Mosaico de Medianeira promoveu uma pequena expedição para encontrar o túmulo de Tadeusz. O túmulo ou o que sobrou dele foi encontrado pela equipe com a ajuda do Centro de Visitantes de Céu Azul, outro município do Oeste do Paraná.
O encontro com o túmulo foi acompanhado pelo sentimento generalizado de decepção pelo seu estado de abandono. A expedição da Revista Mosaico virou reportagem que foi replicada também no site H2Foz de Foz do Iguaçu. Com o título de “O imigrante que estudava os pássaros”, o jornal Gazeta Informativa de São Mateus do Sul (PR) deu sua contribuição à luta para não deixar a história evaporar na dimensão do esquecimento.
A morte de Tadeusz ocorreu em sua terceira viagem ao Paraná, pois ele viajou de volta a Polônia duas vezes. A morte dele se deu devido à malária que contraiu no trecho Porto Mendes – Foz do Iguaçu na rota das antigas navegações na época do mate. O que ele fez em Foz do Iguaçu, que já era município, se foi às Cataratas, se observou aves lá, não está registrado ou não foi ainda encontrado. Mas uma ideia do quotidiano da viagem pode ser obtida nesta nota:
“Pegamos então uma carreta puxada por cavalos de Foz do Iguassú até Pinheirinhos; situada a 72 km, na direção leste, partindo do barranco do rio Paraná. Ao longo da estrada, que atravessa, na maior parte, densas florestas por onde passa uma linha de telégrafo; habitações humanas são espalhadas aqui e as distâncias são entre 30 e 40 entre elas. Chegamos em Pinheirinhos, e paramos na casa do Sr. Pedro de Paula Marins (também chamado Pedro Castellano), guarda de uma seção da linha telegráfica e sendo quase o único habitante deste local. Com exceção de algumas áreas cultivadas, os arredores de Pinheirinhos estão cobertas por densas florestas virgens. O lugar recebeu esse nome por causa dos poucos pinheiros que crescem aí; quer dizer, são uma pequena porção de pinheiros isolados, não conectados diretamente com as florestas isoladas de pinheiros que começam 60 km mais para o Leste. A elevação acima do nível do mar é de aproximadamente 390 metros”.
O túmulo hoje
É triste a situação do túmulo de Tadeusz Chrostowski às margens de uma estrada histórica como é a Estrada Velha de Guarapuava que já foi chamada de Estrada Estratégica, Estrada do Telégrafo, Estrada Cascavel – Foz do Iguaçu e depois da BR-277, Estrada Velha de Guarapuava. O túmulo deveria ser restaurado pois é uma questão de respeito por quem escolheu estar aqui, amou a terra paranaense, colocou seu nome na lista dos pesquisadores e morreu em um lugar que já não existe e está sepultado em um túmulo que já não existe. Permitindo opinar, vejo estar na hora, de que poloneses do Paraná, poloneses de Lubartów, sua cidade natal Kamionka, com o Parque Nacional do Iguaçu e municípios do entorno façam justiça e não deixem a memória desse grande pesquisador se apagar.
Honras ornitológicas
Muito válida a nomeação de Chrostowski como o Patrono da Ornitologia do Paraná e portanto é motivo de inspiração tanto para ornitólogos como para observadores de aves do Paraná, quer sejam de profissões ligadas à ciência ornitológica ou como observadores. É uma família que está crescendo. Destaques no Paraná na ornitologia brasileira incluem vários nomes e logo voltaremos a este assunto. No momento, dirigimos os holofotes para a revista Atualidades Ornitológicas com sede em Ivaiporã no Paraná.
No Brasil, a honra de ser o pai da ornitologia foi o zoólogo Olivério Mário de Oliveira Pinto, natural de Jaú (SP) e viveu entre 1896 e 1981.Destacamos que no seu currículo está a redescoberta da arara-azul-de-Lear (Anodorhynchus leari) durante viagem pelo Brasil, próximo a Juazeiro (BA) em 1950 (Ver texto sobre Oliveira Pinto). Dois anos mais tarde, em 1952, ainda em viagem pelo Nordeste redescobriu o mutum-de-Alagoas (Mitu mitu). O mutum-de-Alagoas, chegou a ser extinto na vida selvagem na Mata Atlântica de Alagoas.
Mas hoje ele começa a ser reintroduzido na floresta alagoana e como estamos tratando de alguém que colocou o Paraná na lista das lideranças ornitológicas, destaco aqui mais um fato: o mutum-de-Alagoas é uma das aves da Mata Atlântica na lista de aves estudadas, hospedadas, tratadas e reproduzidas no Parque das Aves de Foz do Iguaçu no esforço de reintrodução da ave na sofrida mas não totalmente vencida Mata Atlântica de Alagoas. Tadeusz Chrostowski, o cientista polonês ficaria contente se conhecesse o trabalho da ornitologia paranaense levada a cabo no Parque das Aves!
NOTAS
* Os relatos sobre a viagem de Chrostowski foi escrito pelo zoólogo polonês Tadeusz Jaczewski, seu colega de viagem até Pinheirinhos. A citação foi retirada do Dicionário Geográfico das Expedições Zoológicas Polonesas ao Paraná, de Fernando Costa Straube e Alberto Urben-Filho. Straube está à frente da Hori Consultoria Ambiental com sede em Curitiba. Straube descendente do naturalista Gustav Straube é em si parte interessante de toda essa história que o Blog de Foz está procurando. Tente este link. O Monumento Científico Moisés Bertoni em uma área de 200 hectares no Paraguai é parte do sistema de Parques Nacionais do Paraguai administrado sob concessão pela Fundacão Moisés Bertoni também do Paraguai.
Texto produzido por Jackson Lima, jornalista, escritor e historiados no Oeste do paraná