Casais que trabalham juntos: como prosperar na empresa e no relacionamento
Artigo indica que empresas familiares contribuem com mais da metade do PIB.
Pela natureza das relações pessoais sobre as quais são erguidas, empresas familiares são naturalmente complexas. Mas, a união de forças também pode tornar os objetivos profissionais mais fáceis de serem atingidos. Em um artigo intitulado “Propriedade familiar”, publicado em 2020 pelo site da revista acadêmica de Oxford, há a estimativa de que as empresas familiares contribuem com mais da metade do PIB e dois terços dos empregos no mundo. Tal perfil de empresa sempre começa pela família – a matriarca ou o patriarca – em que pode ou não haver a sucessão para os filhos – mas, e principalmente, começa por um casal.
A advogada e consultora para empresas familiares, Thaíse Thomé, explica sobre os desafios e oportunidades dos casais empreendedores e comenta que, em linhas gerais, os parceiros que trabalham juntos têm que pensar no equilíbrio e fazer uma boa gestão de papéis. “Como boas práticas para a sustentabilidade do relacionamento pessoal e também dentro da empresa, um dos pontos mais básicos é deixar claro para o casal e para os demais membros da equipe qual é o papel de cada um e onde começam e terminam as atribuições de cada membro. A delimitação dos papéis fortalece os vínculos afetivos e, também, profissionais”.
É o que Juliana e Adriano Santos, que atuam em uma empresa de transporte de cargas internacionais, citaram como a “receita” para uma boa convivência no amor e nos negócios. A empresa em que eles atuam é familiar. Foi fundada pelos pais de Juliana há 18 anos. Adriano somou forças na gestão comercial da empresa há 4 anos. “Acredito que saber separar bem as funções no negócio e também separar as vivências de casa e do trabalho são elementos que vão garantir boa parte da estabilidade familiar”, afirmou Adriano. Juliana atua na gestão administrativa. Ela explica que os dois não tiveram dificuldades em dividir o tempo para tratar questões de casa e da empresa porque ela teve o exemplo do pai. “Eu já havia trabalhado com o meu pai quando eu era solteira. Quando voltamos a trabalhar todos juntos, em 2009, foi um recomeço porque eu voltei a atuar no mercado de trabalho, mas eu já tinha essa habilidade de conviver neste ambiente com pessoas da família. Meu pai sempre nos ensinou a respeitar cada momento, de não tirar tempo da família com assuntos do trabalho e vice-versa”.
O casal é unânime quando fala sobre deixar claro a divisão de atribuições. “Cada um tem que respeitar o limite e os espaços do outro e ser fiel a isso. Equilibrar bem essas relações é sadio para o casal e para a empresa”, destacam.
Buscar habilidades e características complementares de cada um dos parceiros é muito interessante para o sucesso da empresa. Angélica Kogeliski de Aguiar e Fabiano Cardoso de Aguiar são casados há 6 anos. Eles têm uma empresa chamada “Cinamor”, que fabrica uma espécie de massa enroladinha com canela e coberta com diferentes sabores de caldas e chocolates. Angélica começou a fazer essas massas porque era a sobremesa favorita do marido. A receita também fez sucesso entre os amigos. Mas, até então, ela era apenas “expert” no prato. Na pandemia, Angélica, que trabalhava em uma companhia aérea, ficou desempregada. “Comecei a fazer os rolinhos de canela para vender a alguns amigos e vizinhos. Aos poucos, foi ganhando repercussão e comecei a ter mais encomendas“. Hoje, a Cinamor já está instalada em uma sala comercial, tem planos de expansão e Angélica explica que o desafio para o casal é se desconectar da empresa. “É algo muito prazeroso, estamos muito realizados. Já ajudamos alguns casais de amigos a empreender também e gostamos de compartilhar nossa experiência com as pessoas porque nosso propósito é oferecer um produto de qualidade e também nos conectarmos por meio da nossa história. É uma grande parceria, acho que um dos pontos chave para a estabilidade do casal é estar sempre de ouvidos abertos e ter apoio mútuo”.
Thaíse também comenta que a história familiar é um valor para a empresa e em alguns casos pode até ser uma vantagem competitiva. Dentre as boas práticas para um relacionamento e empresas saudáveis, a advogada cita: “Conhecer e respeitar o perfil de cada um é muito saudável para a empresa e para o casal. Dos aspectos do dia a dia, separar bem as finanças de casa e da empresa, estabelecer as funções de cada um, ter um bom planejamento e fazer a gestão de riscos. Eu costumo dizer que é o alinhamento de propósitos entre as pessoas físicas que impulsiona a pessoa jurídica”.
De acordo com dados levantados na “Pesquisa Global sobre Empresas Familiares 2021 da PricewaterhouseCoopers Auditores Independentes (PwC)”, em que foram entrevistadas 282 empresários de empresas familiares no Brasil, as principais prioridades das empresas para os próximos dois anos são expandir para novos mercados ou segmentos de clientes, aumentar o uso de novas tecnologias, melhorar recursos digitais, lançar novos produtos/serviços e aumentar os investimentos em inovação, dentre outros.
Nessa linha, Angélica e Fabiano já têm planos para o futuro recente: “Para os próximos dois anos, nosso plano de negócios é franquear a empresa, abrir novos pontos e ampliar o espaço que temos hoje, que é somente para entrega dos produtos, com opção de café. Nosso plano é evoluir ainda mais, como casal e como empresa”.
Thaíse complementa: “Eu gosto de citar a seguinte comparação: imagine numa viagem se um se prepara para ir para montanha e o outro para a praia. O alinhamento de propósitos é esse alinhamento prévio que só pode ser feito pelo casal contemplando as diferenças de cada um e não eliminando-as. Já dizia Gustavo Cerbasi, o papa das finanças para casais, o casal é essa soma de 1 + 1 = 3. É na mistura que está a potência”.
Para quem tem interesse no tema, no dia 5 de outubro, dia internacional da empresa familiar, haverá um evento presencial para troca de experiências.
Dicas rápidas de como prosperar no relacionamento e na empresa
Segundo Thaíse, seguir estas 4 dicas já ajudará no equilíbrio e prosperidade da relação familiar e empresarial.
– Estabeleça planos em 3 frentes: meus, seus e nossos;
– Alinhe expectativas em relação ao patrimônio e ao relacionamento;
– Cultive o vínculo afetivo. Nada resiste à falta de cuidado e atenção;
– Desenhe cenários com possibilidades: da mais otimista até a mais pessimista. Lembre-se do conselho do gato para “Alice no país das Maravilhas”: para quem não sabe onde chegar, qualquer caminho serve. Se já valia para os contos de fadas, imagine para a realidade do Brasil pós-pandemia?!