Camara municipal de foz do iguaçu

O verdadeiro desafio de Foz do Iguaçu

Unir diversidade com identidade, passado e futuro, local e mundial é parte do jogo de cintura“, escreve Jackson Lima, jornalista, escritor e ambientalista

O desafio de Foz do Iguaçu, em sua caminhada para o futuro, é não perder seu jeito de ser, sua identidade, sua alma e seu norte. Foz vive mais um período de canteiro de obras. Não é o primeiro. A Ponte da Amizade foi fruto de uma de suas épocas de canteiro que trouxeram mudanças impensáveis até então para os modos da pacata cidade.

O canteiro dos canteiros veio com a construção da maior usina hidrelétrica do mundo que produz energia e é responsável por algo até agora impensável para uma hidrelétrica: ser uma atração turística, ter um complexo turístico definido, rentável gerador de empregos que se acoplou às estruturas turísticas e sociais da cidade.

Hoje com a construção de uma segunda ponte com o Paraguai e a extensa lista de obras dela decorrente, o desafio da cidade é o mesmo: crescer sem perder a alma.

E como é sabido pelos profissionais e desconfiado pelos não profissionais, a alma da cidade é o verde e não poderia ser de outra forma. A razão de ser da cidade, o que Hollywood chama de “claim to fame” é o verde representado pelas Cataratas do Iguaçu com sua ampla diversidade de saltos, microambientes, plantas, arbustos, árvores, rochas, animais e aves, tudo em harmonia e tudo protegido por um Parque Nacional que garantiu a transformação de tudo isso em atrativo de fama internacional dentro do qual tudo mais se encaixa.

Na cidade, uma ampla lista de ideias, propostas e projetos sofre de falta de definição, no caso dos que ainda são sonhados; de continuidade no caso dos que já foram iniciados e de simples esclarecimento, planejamento e regulamentação no caso de ideias em via de execução.

Estamos falando de obras como a Beira Rio que além de beirar o rio, conecta Foz do Iguaçu com seu passado fluvial, marinheiro e ribeirinho. Estamos falando também de planejamento e regulamentação do destino de nossas avenidas como as três maiores Paraná, JK e República Argentina e como se dará a continuidade de ruas centrais que partem em direção ao bairro Guarapuava como a Jorge Sanways, Bartomoleu de Gusmão e Edmundo de Barros.

Lembramos também da necessidade de uma discussão séria sobre a sede do 34º Batalhão de Infantaria Mecanizado, alvo de muitos olhos que o querem ver sair do centro para que seu lugar seja ocupado por outras “possibilidades” arriscando desconectar a cidade de suas origens fronteiriças e militar.

Outras questões menos difíceis que a anterior, incluem definir regras e padrões para os novos loteamentos que possam assegurar que a identidade de Foz do Iguaçu, de novo ligada, ao verde, às águas, continuem a existir. Este assunto abrange também a arborização urbana que hoje já traz tantos conflitos, sem falar de discutir a possibilidade de plantar espécies frutíferas e incluindo ideias renovadoras, alternativas como agricultura urbana.

A Organização Mundial do Turismo lançou em 2020, epicentro da Covid 19, um projeto para a execução de uma lista mundial chamada Best Tourism Viallages (Melhores Vilas para o Turismo). O alvo do projeto, são pequenas localidades, mas a lista de critérios para participação apresenta 11 pares de conceitos que os candidatos devem apresentar e serem capazes de demonstrar: Cultura/Natureza, Passado/Futuro, Tradição/Inovação, Estórias*/ História, Diversidade/Identidade, Rural/Criatividade, Lar/Comunidade, Comida/Alma, Raízes/Hospedagem, Empregos/Sustentabildade.

A lista da OMT parece trazer todas as dicas para que Foz do Iguaçu siga em frente sem deixar sua alma para trás.

O desafio é garantir que a cidade não venha a perder sua característica verde e passe a agredir os visitantes e moradores com os mesmos cenários de outras cidades do mundo.

O desafio é evitar que a BR-469 seja alvo de uma urbanização desenfreada. Que a área rural venha a ter congestionamento e tenha hora do rush. Que os bairros não ganhem cara de comunidades dormitórios. Finalmente, o desafio é evitar a tendência de copiar o mundo especialmente aquilo que já deu ou está dando errado.

*Jackson Lima- Jornalista e ambientalista
Foto: silvanacanalmkt
Publicado em https://almanaquefuturo.com.br/

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