RPPN Papagaios de Altitude e Parque das Aves celebram o Dia Nacional da Araucária apresentando sua base de pesquisa
Data foi escolhida para celebrar as espécies que vivem na reserva e se alimentam prioritariamente de pinhão, semente da araucária, como o papagaio-charão
Em comemoração ao dia 24 de junho, Dia Nacional da Araucária, o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, no Paraná, e o Projeto Charão, com sede em Carazinho, no Rio Grande do Sul, inauguram a Base Altomontana na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Papagaios de Altitude. Localizada em Urupema, Santa Catarina, a base serve para atividades de pesquisa e conservação do único papagaio migratório no Brasil: o papagaio-charão (Amazona pretrei).
“Apesar da base ter ficado pronta em 2020, e estar acolhendo pesquisadores e sendo muito útil para nosso trabalho desde então, decidimos inaugurá-la formalmente para celebrar a parceria entre as duas instituições, que trabalham há muitos anos para conservar espécies em risco de extinção”, comenta o professor e pesquisador Jaime Martinez, que fundou o Projeto Charão juntamente com outras instituições e sua esposa, Nêmora Prestes, que também é pesquisadora.
A Base Altomontana
Em 2018, o Projeto Charão criou a Reserva Particular do Patrimônio Nacional (RPPN) Papagaios de Altitude, uma área florestal de 46 hectares na qual o papagaio-charão (Amazona pretrei) e o papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), dentre outras espécies, encontram um ambiente natural onde podem se alimentar dos pinhões produzidos pelas araucárias, árvore da Mata Atlântica que também é conhecida como pinheiro-brasileiro.
Para que as pesquisas e monitoramentos da fauna e da flora da reserva fossem mais efetivas, era necessário criar uma base física dentro da RPPN. Então, em 2019, o Parque das Aves fez uma doação ao projeto para a construção dessa estrutura, que foi batizada de Base Altomontana.
“Apoiamos os nossos parceiros do Projeto Charão para que pudessem investir na construção da base, o que permite aumentar a eficácia das pesquisas que eles tão brilhantemente, e há muitos anos, realizam em campo com as duas espécies de papagaios. A ideia é que a base possa ampliar também a abrangência das ações educativas, tanto com a comunidade local como com os turistas que visitam a região no período do inverno”, comenta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves, que teve a possibilidade de visitar o local em janeiro e maio de 2019.
Ben Phalan, chefe de conservação do Parque das Aves, foi visitar a Base Altomontana em abril de 2022.
“Infelizmente, não pudemos acompanhar de perto a construção, pois todo o processo aconteceu no auge da pandemia. No entanto, o Jaime e a Nêmora sempre enviavam atualizações para que pudéssemos participar do processo junto com eles. Fiquei muito feliz em ver a base totalmente pronta e em operação”, comenta Phalan.
Na ocasião, Ben também pôde apreciar um momento que os professores Jaime e Nêmora trazem na memória desde seus tempos de estudantes e que inspirou a criação do Projeto Charão.
“Fiquei emocionado ao presenciar o voo de milhares de papagaios pousando nas araucárias de Urupema, ao final da tarde, horário em que se encontram para se deslocar até o dormitório. Além de ser um espetáculo incrível, enfatiza a vulnerabilidade da espécie ao saber que toda a população mundial se reúne em um único dormitório”, comenta Phalan.
O Projeto Charão e a RPPN Papagaios de Altitude
Foi no planalto de Santa Catarina, um dos maiores remanescentes de Florestas de Araucárias do Brasil, que o Projeto Charão surgiu, em 1991, como uma parceria entre a Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), de Carazinho.
“Eu e a Nêmora, ambos biólogos apaixonados pela natureza, descobrimos um bando de papagaios-charão no Rio Grande do Sul. O estranho é que eles desapareciam completamente daquela área entre os meses de março e julho. Ficamos muito intrigados com aquele sumiço e começamos a procurá-los em vários lugares. Até que, finalmente, descobrimos que migravam para as florestas de araucárias de Santa Catarina nos meses mais frios, à procura do pinhão. Foi quando decidimos que seria muito importante conhecer mais a espécie e protegê-la. Foi assim que mergulhamos nas atividades de pesquisa da espécie, por mais de 30 anos”, relembra Jaime.
Com o apoio de instituições como a União Internacional da Conservação da Natureza (UICN), da Holanda, e o Rainforest Trust, dos Estados Unidos, além de doações de muitas pessoas do Brasil, inclusive professores e acadêmicos da UPF, o Projeto Charão conseguiu adquirir a área onde está localizada a RPPN Papagaios de Altitude.
A área foi oficialmente criada pelo Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMBio) com a criação de uma portaria, publicada no Diário Oficial da União no dia 23 de fevereiro de 2018.
“A RPPN abriga uma reserva estratégica de pinhões para a fauna silvestre, e essa área protegida tem oferecido excelentes resultados para o papagaio-charão e para muitos outros animais”, comenta Jaime.
A araucária e o papagaio-charão
A conexão entre a árvore araucária (Araucaria angustifolia) e o papagaio-charão se dá pela semente da árvore, conhecida como pinhão, que serve de alimento para essa e muitas outras espécies. Inclusive, o papagaio-charão migra centenas de quilômetros todos os anos para obter esse alimento, indo do Rio Grande do Sul para Santa Catarina.
“Hoje em dia, como as florestas de araucárias estão praticamente dizimadas, restando apenas 3% de sua área original, todas as espécies que dependem desse habitat para obter abrigo e alimento também correm sérios riscos de extinção. Infelizmente, é o caso do papagaio-charão e do papagaio-de-peito-roxo. Por isso, é fundamental conservar o que resta dessas florestas que, além de essenciais para a fauna da região, são simplesmente belíssimas”, comenta Jaime.
Também conhecida como mata de araucária ou Floresta Ombrófila Mista, a floresta de pinheiro-brasileiro é uma das diversas paisagens da Mata Atlântica, típica do sul do Brasil. Além disso, várias espécies da fauna de flora que vivem ali são endêmicas, ou seja, ocorrem apenas nesse tipo de floresta. Segundo a Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), as florestas de araucária ocupavam 200 mil quilômetros quadrados, sendo que hoje estão reduzidas a apenas 6 mil.
Muitas aves, além de outros animais, dependem da mata de araucária para sobreviver. Segundo Paloma, a escassez do principal alimento que compõe a dieta do papagaio-charão nos meses de outono e inverno é uma grande ameaça à conservação dessa espécie, cuja população é considerada vulnerável à extinção e possui tendência ao declínio.
“Por conta da redução na disponibilidade de pinhão e da ameaça de extinção, o projeto segue aprimorando suas atividades de pesquisa e educação ambiental, o que favorece tanto a conservação do papagaio-charão quanto das florestas de araucária. O Parque das Aves se orgulha muito em contribuir com a construção de um espaço tão importante e ser parceiro de uma causa tão nobre”, comenta Paloma.