Paraguai é feito de histórias como a das mulheres das ervas medicinais e do tereré
Dia desses eu e o jornalista Jackson Lima, convidados pela empresária Elva Figueredo, fomos matar nossa curiosidade sobre as ervas medicinais para colocar junto ao tereré, ou não e que são vendidas nas ruas de Ciudad del este/PY
Conversamos com dona Paola Sosa, que há 30 anos leva sua banca de ervas medicinais para a beira do Lago da República, localizado em Ciudad del Este, no departamento de Alto Paraná. Muitas pessoas comentam com Ña Paola o que estão sentindo e e recebem um maço com a solução mágica para aliviar o sintoma. No dia da nossa visita, encontramos 70 diferentes ervas. Todas fresquinhas e naturais.
Fomos convidados pela proprietária da Lleva Tour Operator e presidente do Ciudad del Este y Región Convention & Visitors Bureau, Elva Figueredo para conhecer uma outra realidade da cidade de fronteira, que é simplesmente surpreendente, pois tem inúmeras riquezas, como esta das mulheres que vendem ervas medicinais.
Eu usei trechos dos escritos do Jackson Lima nesta produção. Além de jornalista ele é um estudioso da língua guarani e da cultura paraguaia. Aqui ele escreve que dona (Ña) Paola Sosa é uma “yuyera” do Paraguai. Há pelo menos 30 anos ela vende “yuyo”. No português não tem uma palavra que traduza e faça justiça à palavra “yuyo”, em espanhol. O dicionário vai dizer que “yuyo” se chama “erva daninha”.
Jackson diz que Ña Paola nunca vai aceitar esta tradução de mau gosto, mas que são ervas comuns que nascem facilmente em qualquer lugar, mas que se transformam em remédios, por conhecer suas propriedades. Em guarani, a língua oficial do Paraguai, que também falada no Brasil por conta das comunidades guaranis espalhadas de Angra dos Reis ao Rio Grande do Sul, a palavra “yuyo” é “Ñaná“, plantas que nascem por todos os lugares e que tem propriedades medicinais.
No caso do Paraguai e em guarani, em vez de dizer planta medicinal se diz “Pohã ñaná” ou “yuyos que curam”. Portanto, são plantas vendidas no Paraguai e que podem ser maceradas e colocadas juntos ao tereré. Ou seja, são plantas que curam.
Tereré patrimônio mundial
Por falar em tereré, em 2011, quando o Paraguai completou 200 anos, o Congresso Nacional decretou o Tereré como Patrimônio Nacional do Paraguai. O decreto criou até o Dia Nacional do Tereré que cai no último sábado de fevereiro.
Por coincidência o Mato Grosso do Sul declarou o Tereré como Patrimônio Cultural do Estado no mesmo ano. No Paraguai em 2019 o governo apresentou à Unesco o pedido de inclusão da bebida para ser parte da lista oficial do Patrimônio Imaterial Mundial o que foi aceito e declarado em 2020.
Mas há uma informação importante. O nome oficial registrado pela Unesco é: Práticas e Saberes Tradicionais do Tereré na cultura Pohã Ñana. Agora que você já sabe o que é pohã ñana fica fácil entender o significado do título da Unesco. Ao contrário do título dado tanto pelo Paraguai como pelo Mato Grosso do Sul em 2011, o título da Unesco vai além do tereré. É Patrimônio Mundial na categoria intangível ou imaterial as práticas, o conhecimento ou saberes do uso das ervas no tereré.
Conhecimento sobre as plantas
A Unesco diz que a “cultura do Pohã Ñana”, não se limita às vendedoras do tererê com as ervas. Inclui também o conhecimento por parte dos clientes que chegam às banquinhas sabendo o que querem, pedindo pelo nome. Luis Peraltam estacionou o carro e selecionou cinco diferentes plantas.
Uma que ele não estava vendo no balcão, pediu e Ña Paola, entregou a ele. “Peguei aguape puru’a (camalote), kapi’i cedron (capim santo), menta’i (hortelã), tarope (Carapiá) e yryvu canilla (erva couvinha). Coloco na água gelada tomo com a erva de tereré. “É bom para o estômago, fígado. É refrescante e relaxante”, conta.
A prática e saberes da cultura pohã ñana no tereré inclui os utensílios, ferramentas, produção, jeito de amarrar as plantas para a venda o que em si já é um verdadeiro cerimonial. Os utensílios incluem a cuia, a bomba, o pilão para pilar as plantas e certos costumes.
Tereré Rupa
O tereré rupa é um desses costumes. “Rupá” significa “cama”. Antes de tomar o tereré, por volta das 10 da manhã, há o costume de comer alguma coisa leve e salgada. É a isso que os paraguaios chamam de “cama de tereré”. É uma maneira de forrar o estômago antes de tomar a bebida gelada e fria. O tereré rupa pode ser um sanduíche, um pastel (empanada)
Algumas datas no Paraguai
Dia Nacional do Tereré, último sábado de fevereiro
Dia do Pohã Ñana (Ervas Medicinais), 1º de agosto
Legenda foto Principal: Elva Figueredo (primeira da direita) com o jornalista Jackson Lima, na visita a banca de ervas medicinais de Ña Paola
Texto:
Jackson Lima
Silvana Canal