Camara municipal de foz do iguaçu

Parque das Aves recebe ave em risco de extinção

A instituição é a única no mundo a manter o uru-do-nordeste sob cuidados humanos. Os cinco indivíduos são a esperança da espécie

Mateusz Styczynski, Weber Girão e Fabio Nunes, da Aquasis; Paloma Bosso, Richarlyston Brandt, Ben Phalan, Roberta Manacero e Tony Bichinski

Cinco indivíduos de uru-do-nordeste (Odontophorus capueira plumbeicollis), uma pequena ave que só ocorre no Nordeste do Brasil e está classificada como Criticamente em Perigo de extinção na lista nacional de espécies ameaçadas, chegaram em Foz do Iguaçu no início de abril, em um avião particular, para serem cuidados pela equipe do Parque das Aves. O recebimento, que consiste em prevenir mais uma ave de ser extinta da natureza, se deu graças ao trabalho da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), com o apoio de vários órgãos ambientais.

“A Aquasis realiza um trabalho muito importante com essa e outras aves na Mata Atlântica do Nordeste, como o periquito-cara-suja, e o soldadinho-do-araripe, ave do bioma Caatinga. Junto com eles, vamos buscar a reprodução do uru-do-nordeste e então a volta dos filhotes em segurança à sua região de ocorrência natural”, comenta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.

Trabalhando para evitar o desaparecimento do uru-do-nordeste
O uru-do-nordeste, exclusivo das florestas da Mata Atlântica e Caatinga do Nordeste do Brasil, só ocorre nessas regiões e vem desaparecendo há vários anos. Considerada uma das aves mais raras do Brasil, a espécie enfrenta diversas ameaças em seu habitat natural, como a caça e o desmatamento. Além disso, a equipe da Aquasis suspeita que as aves sofram com ataques de teiús e raposas, além de possíveis ataques de gatos e cães domésticos.

A Aquasis, que já trabalha com outras espécies de aves na região, notou o fato junto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) atuou para que ela pudesse ser incluída em dois Planos de Ação Nacionais (PAN): para Conservação de Aves da Mata Atlântica, e PAN para Conservação das Aves da Caatinga, ambos sob supervisão do CEMAVE (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres).

Dentro dos planos de ação, uma das medidas sugeridas para evitar a extinção dessa ave é a criação de uma população de segurança, cujos indivíduos possam posteriormente ser reintroduzidos em sua área de ocorrência original, garantindo que o uru-do-nordeste não desapareça para sempre.

Jornada do Ceará para o Paraná
A nobre missão dessas cinco aves começou quando elas foram avistadas por um caçador, que somente não as abateu por não ter mais munição no armamento. Depois disso elas foram recolhidas na Serra de Baturité, na região centro-norte do Ceará, pela equipe da Aquasis, em parceria e com autorização do ICMBio.

“O recebimento desses indivíduos no Parque das Aves é o primeiro passo na criação de um programa de manejo populacional para a ave. Até hoje, não existiam outros indivíduos sob cuidados humanos. A Aquasis também está atuando em campo para proteger o habitat do uru-do-nordeste, entendendo e reduzindo as ameaças”, disse Antônio Emanuel Sousa, coordenador do PAN Aves da Caatinga, do CEMAVE/ICMBio.

Enquanto as aves eram mantidas temporariamente em uma área da Aquasis até que todas as acomodações apropriadas para a viagem fossem finalizadas, vários doadores particulares ajudaram financiando o combustível necessário para abastecer um avião privado, que levaria as aves e uma comitiva da Aquasis para o Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, no Paraná.

“Ainda existe um longo caminho para salvar essa ave da extinção, mas esse foi realmente um primeiro e importante passo. Estamos animados em empregar esforços para que essa ave continue tendo o seu direito de existir”, comenta Fábio Nunes, gerente de projetos de conservação da Aquasis.

Oficina realizada no Parque das Aves em 2020
Em fevereiro de 2020, um pouco antes da pandemia de Covid-19 ser decretada, uma oficina intitulada “Avaliação ex situ para Planejamento Integrado de Conservação para Galliformes e Tinamiformes no Brasil”, com a participação de 25 especialistas em conservação, foi realizada no Parque das Aves. Estiveram presentes representantes da própria instituição, do CEMAVE/ICMBio, da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), do Grupo Especialista em Planejamento de Conservação (CPSG) da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), e do Centro de Sobrevivência de Espécies Brasil (CSE Brasil). Entre outras ações, os participantes identificaram a importância de estabelecer uma população de segurança do uru-do-nordeste, que pode servir para reintrodução ou reforço da população na natureza.

“Salvar espécies é um esforço colaborativo. Para a conservação efetiva de uma espécie, todos nós precisamos trabalhar juntos – zoológicos, criadouros, centros de triagem de animais selvagens, ONGs, agências estaduais, universidades, autoridades federais,” disse Eduardo Barbosa, coordenador do PAN das Aves da Mata Atlântica, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio).

Parque das Aves abriga parente próximo do uru-do-nordeste
Além de receber os exemplares de uru-do-nordeste (Odontophorus capueira plumbeicollis), o Parque das Aves também abriga um indivíduo de uru-do-sudeste (Odontophorus capueira capueira), parente próximo da espécie nordestina.

De acordo com os especialistas, apesar de serem muito semelhantes, o uru-do-sudeste é geneticamente diferente do uru-do-nordeste.

Além disso, o uru-do-sudeste habita uma região diferente, que inclui desde o leste do Brasil até o leste do Paraguai e nordeste da Argentina.

Os visitantes do Parque das Aves podem observar o uru-do-sudeste em um recinto chamado “Os Pequenos Marrons”. O nome desse ambiente está relacionado com a coloração das aves presentes ali, que se camuflam muito bem no solo escuro e cheio de folhas secas da Mata Atlântica. O nome também remete a questão de que mesmo não tendo cores tão exuberantes e carismáticas estas espécies também merecem nossos melhores e maiores esforços na luta contra a extinção de espécies.

“O solo do recinto onde está o uru-do-sudeste é muito importante para essa ave, que gosta de fazer seu ninho em buracos forrados de folhas secas. Por isso, nossa equipe adiciona muitas folhas no chão, visando o bem-estar dos animais que vivem ali. Queremos que cada ave sob nossos cuidados se sinta totalmente em casa, e também iremos oferecer o melhor ambiente possível aos urus-do-nordeste, novos moradores do Parque das Aves”, afirma Paloma.

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