Conferência do Mercosul aponta necessidade de integração e celebra avanços com União Europeia
Com apresentações do vice-presidente Hamilton Mourão e do ministro Paulo Guedes, que anunciou a intenção de reduzir alíquotas de importação, evento realizado pela CNC apontou ganhos e desafios do bloco em seu 30º aniversário
As conquistas e os desafios para modernização das economias sul-americanas pautaram a Conferência de Comércio Internacional e Serviços do Mercosul (CI21), evento híbrido sediado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) na sexta-feira (05), no Rio de Janeiro. Promovida pelo Conselho de Câmaras de Comércio do bloco econômico (CCCM), entidade presidida pela CNC pro tempore desde julho, a conferência abordou a importância da celebração de acordo de livre-comércio com a União Europeia e reuniu autoridades como o Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão, e o Ministro da Economia, Paulo Guedes.
A abertura foi feita pelo presidente da CNC, José Roberto Tadros, que destacou que o Mercosul precisa se unir cada vez mais para reduzir a pobreza nos países e melhorar o poder aquisitivo da sociedade. “Se a Europa conseguiu se unir, a despeito de conflitos históricos, porque nós não conseguiríamos? Com empenho, fechamos um acordo com a União Europeia, no qual fomos muito enfáticos ao destacar que estamos todos do mesmo lado. Seguimos fazendo nosso trabalho de fundo de linha, nós e todos os parceiros do bloco”, apontou Tadros.
Ainda na solenidade de abertura, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, ressaltou a importância de se investir no Mercosul neste momento em que o Brasil se recupera da crise sanitária. “Precisamos refletir sobre o papel do bloco em um mercado competitivo e volátil. Nosso País é um grande demandante da maior abertura dos demais mercados e estamos trabalhando para avançar em outras agendas. É premente a modernização do Mercosul, com integração das cadeias produtivas. Esse evento ressalta a importância do bloco em seu 30º aniversário e a relevância do acordo com a União Europeia”, disse o vice-presidente da República, que destacou ainda ganhos como a participação de setores de valor agregado e estímulo à pesquisa e inovação.
Redução de tarifas
Em participação on-line, o ministro da Economia, Paulo Guedes, reforçou a importância do estímulo a um processo de integração e abertura. “Iniciamos o Mercosul quando ainda não havia a Zona do Euro ou o Tratado Norte-Americano. A nossa agenda precedeu o movimento de globalização, mas, lamentavelmente, não conseguimos fazer uma maior integração com a economia global. A liberalização comercial, abertura da economia e melhor ambiente de negócios são partes decisivas do nosso plano econômico”, afirmou.
O ministro disse que, em um momento como o atual, com pressão inflacionária forte na economia brasileira, gostaria de dar um choque de oferta, facilitando a entrada de importações para dar uma moderação nos reajustes de preços. “É um momento ideal para fazer abertura, ainda que tímida, da economia”, observou pouco antes de anunciar a decisão de reduzir as alíquotas de importação de 87% do universo tarifário, ou seja, do total de itens tributados com o imposto de importação. “Tivemos uma excelente conversa há três semanas atrás, aqui no Brasil, em que, finalmente, arrematamos uma mudança, um primeiro passo importante, com a compreensão de argentinos, paraguaios e uruguaios, para reduzirmos em 10% todas as tarifas de importação”, afirmou Guedes.
Também por vídeo, o presidente da Eurochambres, Christoph Leitl, enumerou avanços alcançados nas três décadas do Mercosul, com benefícios que vão além da economia. Leitl destacou ainda que o bloco econômico é um dos dez maiores do mundo. “Essa parceria agora vai nos ajudar, na quarta década de sua existência, a avançar ainda mais”.
Após a realização dos painéis com convidados, o presidente da CNC anunciou a transição da presidência pro tempore da CCCM para a Câmara de Comércio e Serviços do Paraguai, salientando que os membros do Conselho serão sempre bem-vindos à entidade. “Vamos continuar trabalhando juntos permanentemente”, afirmou.
Alianças para modernização
O primeiro painel abordou o futuro e a realidade da economia sul-americana, mediado pelo jornalista Márcio Gomes, e ouviu o embaixador Michel Arslanian Neto, diretor do Departamento de Mercosul e Integração do Ministério das Relações Exteriores, e a representante da Câmara Brasileira da Economia Digital, Anahi Llop. Os palestrantes concordaram sobre o fomento garantido pelo bloco econômico às nações participantes, mas apontaram que é preciso fazer ajustes para que os ganhos continuem avançando. Anahi pontuou o quanto a economia digital tem representatividade no desenvolvimento econômico de todo o bloco.
“O tratado com a União Europeia é importante para fomentar toda a cadeia produtiva do país, permitindo que a economia transite de forma mais fluida. É um passo para acelerar e sedimentar esse desenvolvimento dos últimos anos”, destacou. Michel Arslanian Neto abordou a dicotomia de avaliações sobre as realizações do bloco econômico e acrescentou que todo processo de integração envolve debates. “O Mercosul começou como assunto diplomático e fincou raízes em ações sólidas. Desse ponto de vista, é um sucesso. Mesmo hoje, com representação menor, diante de fatores como a ascensão da China, o bloco é muito representativo. Por outro lado, vinha deixando de negociar com outras regiões do Mundo, o que foi retomado recentemente. Apesar da pandemia, as frentes de negociações continuam ativas”, informou o embaixador, destacando que o objetivo é concluir esses acordos ainda em 2022.
Integração e sustentabilidade
O segundo painel reuniu os membros do CCCM com o representante da Eurochambres, Dominic Boucsein, para tratar sobre expectativas e contribuições empresariais no acordo de livre-comércio entre os blocos. Além do presidente da CNC, José Roberto Tadros, participaram presencialmente o representante da Câmara de Comércio e Serviços do Uruguai, Ambrosio Bertolotti; o secretário da Câmara Argentina de Comércio e Serviços, Rodrigo Gustavo Perez Graziano; o presidente da CNC Bolívia, Rolando Kempff Bacigalupo; o diretor da Câmara de Indústria, Comércio, Serviços e Turismo de Santa Cruz, Jean Pierre Antelo e o diretor da CNC Rubens Medrano. O debate também contou com mensagens em vídeo do presidente da Câmara de Comércio do Paraguai, Ernesto Figueredo Coronel; do presidente da CNC Chile, Ricardo Mewes, e da presidente da Câmara de Comércio de Santiago, Maria Teresa Vial.
Os palestrantes lembraram a origem da integração entre os povos por meio do comércio e destacaram a importância do acordo, que representa a expectativa da elevação de investimentos em desenvolvimento econômico e social. Abrindo o painel, o representante da Eurochambres, Dominic Boucsein, falou sobre a necessidade de mais cooperação internacional e pragmatismo para o progresso das relações. “Esse acordo é muito mais que um negócio. É um instrumento que combina nossas economias e sociedades enquanto avançamos para um mundo pós-covid”.
Tadros salientou que a ratificação, além de prever abertura comercial, maior transparência e segurança jurídica dos mercados de serviços, possibilitará a redução de barreiras não-tarifárias gerando acesso ao mercado consumidor mais rico do planeta. No entanto, pontuou que uma questão que merece prudência diz respeito à Amazônia e à necessidade de respeitar os limites do meio ambiente em nome da sustentabilidade. “No processo de efetivação do acordo, o agronegócio vem buscando alternativas responsáveis para convivência harmônica entre as duas partes. Esse é um compromisso nosso”. (AI CNC)