História de engenheira de Itaipu merece ser contada em livro
Sua vasta experiência nas mais diversas áreas a tornam uma profissional ímpar no Brasil
A engenheira eletricista Sônia Maria Salgado, especializada em Sistemas de Potência e bacharel em Direito, tem uma trajetória de vida tão peculiar que sua história merece ser contada num livro.
Formada em dezembro de 1974, pela Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), de Belo Horizonte, aos 17 anos de idade ela já trabalhava com carteira assinada como monitora de matemática de um curso preparatório para vestibular. De lá para cá, a carreira desta mineirinha ganhou o mundo.
Com vasta experiência no setor elétrico, tanto no Brasil como no exterior, Sônia Salgado assumiu há quatro meses a função de assessora especial do diretor técnico executivo de Itaipu, Renato Sacramento. Ele foi seu colega de turma no 3º ano do 2º grau, em 1969, no Colégio Universitário da UFMG. Os dois voltariam a dividir a mesma sala e o mesmo grupo de estudos, ao longo dos cinco anos de formação.
Em tese, sua vida profissional poderia ser resumida pela experiência adquirida nas várias áreas do sistema elétrico brasileiro, incluindo centro de pesquisa, fabricante, projetista, concessionária, construtora, montadora e comissionadora do sistema elétrico brasileiro. “Vi o primeiro tronco de transmissão de 500 kV nascer e evoluir; agora, trabalho com orgulho em nossa Itaipu, de destaque mundial na produção de energia”, diz.
Mas a carreira de Sônia Salgado é muito mais que isso. Aos 22 anos de idade, já era fluente em inglês, alemão e francês, além de ler e entender o espanhol. Falar outros idiomas era quase uma necessidade, pois os livros de Engenharia eram todos em inglês ou espanhol. Tinha que se virar sozinha ou por meio de bolsas de estudo que ia conseguindo ao longo do caminho.
“A engenharia veio à minha cabeça como uma das únicas opções viáveis, à época, para que eu conseguisse construir uma vida economicamente mais sólida, como sonhava para mim e minha família de origem. Sempre fui boa aluna e a mais novinha da turma. Não me preocupava com o fato de que a profissão fosse majoritariamente masculina”, relata.
Seu primeiro emprego na área de elétrica foi como projetista na Electra S.A, Projetos e Consultoria. Com uma bolsa da Siemens AG, ela trabalhou e estudou por cerca de três anos na Alemanha, onde iniciou sua especialização em estudos e problemas de transmissão em alta e extra-alta tensão AC/DC. De volta ao Brasil, trabalhou mais algum tempo na fabricante Siemens S.A. e na Themag Engenharia.
Na sequência, foi para a Eletrosul (SC), onde atuou na área de engenharia de proteção e controle do primeiro tronco de 500kV do sistema de transmissão brasileiro, fornecido pela fabricante alemã Siemens. Ainda na Eletrosul, participou de vários projetos e estudos, nos departamentos de engenharia de sistemas e de planejamento.
Separou-se de seu marido em 1980 e, pela Eletrosul, continuou viajando muito pelo mundo, a trabalho, em países da Europa e da Ásia, tendo passado sete meses na fábrica da Toshiba Co, no Japão, em 1983, de onde viajou para o Brasil e várias vezes para a França, onde participava ativamente do Cigré Internacional – Conselho Internacional de Grandes Sistemas Elétricos, organização global no campo da eletricidade de alta tensão.
De volta ao Brasil, em 1986 fez especialização em Sistemas de Potência, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Um ano após, decidiu desacelerar a ascensão de sua carreira, para dedicar mais tempo ao seu filho Guilherme. Em 1993, desligou-se da Eletrosul e passou a trabalhar por conta própria, agora de volta a sua cidade natal, Belo Horizonte (MG). Também nesse período, tornou-se, em 1999, bacharel em Direito pela UFMG. Adivinha quem foi a oradora da turma? Sim, ela mesma.
Em 2005, retornou à engenharia e não parou mais, desta vez trabalhando com geração em usinas hidrelétricas do Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará e, por último, antes de Itaipu, em Rondônia, na usina de Jirau, empreendimento no qual trabalhou por longos nove anos, desde a fase de estudos, projetos, aprovação, fabricação, testes, construção, montagem, comissionamento e colocação em operação. Passou um ano na Coreia do Sul, com o fabricante da subestação 500kV da usina.
Ao longo de sua carreira, numa profissão majoritariamente dominada por homens, ela percebeu que o preconceito contra as mulheres sempre existiu. Porém, sempre subliminarmente. Era ‘exaltada’, ‘admirada’, mas o poder de verdade, em cargos superiores, acabava nas mãos dos homens. “Daí, os gerentes tinham que me engolir”, brinca com a situação.
Embora prefira não ser chamada de desbravadora da área de Ciências Exatas, Sônia Salgado acredita que ajudou a construir uma bela história de lutas e conquistas dentro da profissão, que pode servir de incentivo para outras mulheres adentrarem e mostrarem seu valor também neste mundo profissional.