Sunset Food Experience busca a certificação de Foz como Destino de Turismo de Experiência
Por Jackson Lima*
Um grupo de menos de 15 pessoas participou de um jantar candidato a receber certificação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) como um Produto Turístico de Experiência.
Parece que depois da pandemia, “as pessoas entenderam que uma viagem pode e precisa agregar aprendizado, conscientização e transformação pessoal a partir do contato e interação com outras culturas e pessoas fora da sua esfera social”. É o que diz um material do Sebrae. A proposta do Sebrae tem base em posicionamento da Organização Mundial do Turismo (OMT) que afirma: “o turista deseja, viajar para destinos onde, mais do que visitar e contemplar, fosse possível também sentir, viver, emocionar-se e ser personagem de sua própria viagem”.
É sobre os últimos quatro verbos que tratou o jantar experiencial, autoral, mão-na-massa assinado pela chef Valéria Mariotti e Pedro Tenerello, com roteiro de “storytelling” da chef com o biólogo Wilson Fernandes. Os convidados vieram ter experiência, saborear o jantar e ter surpresas.
Primeiro cada convidado ganhou uma porção de massa para ser moldada pelos convidados, segundo sua criatividade, devagar, prestando muita atenção nos movimentos, sentindo o toque e observando as repostas dos sentidos. Depois de moldado os pãezinhos foram levados ao formo.
Enquanto isso acontecia, começou a serem servidas as comidas. Eram seis pratos, cada entrada de prato chamada de “passos”. O desfile abriu com uma entrada (antipastos) de queijo de flores, geleia de hibisco kenafe com abacaxi e pimenta, uma focaccia de taioba com alecrim. A primeira descoberta foi visual ao ver flores, pequenas relvas, e outras plantas no prato em uma mistura muito fina de cores e sabores. Essas plantas são conhecidas como Plantas Alimentícias não Convencionais ou PANCs.
Para o biólogo Wilson Fernandes, responsável pela escolha das PANCs no cardápio essas plantas ganharam o nome de “não convencionais” porque “não são encontrados nas gôndolas de mercados ou mesmo em feiras agrícolas ou agroecológicas”. E os motivos são a inexistência de cultivos para atender a esses locais e a falta de demanda.
Em Foz do Iguaçu, as PANCs já estão presentes em diversos empreendimentos que vão do Parque das Aves passando pelo 14º Batalhão da Polícia Militar até o CMEI Celeste Sottomaior no Jardim Paraná. Um dado importante é que o Wilson Fernandes está ou esteve presente em todas essas iniciativas. Para cada florzinha vermelha, amarela, suas folhinhas verdes o biólogo contava uma história referendada pela chef Valéria Mariotti ou vice versa.
O primeiro passo trouxe uma salada de capuchinhas recheada com hommus, lâminas de rabanete e pepinos, micro verdes e molho de ervilhas frescas. Tudo saboreado, “curiosado” e comentado pelos “comensais”.
A entrada do segundo passo chegou chegando arrancando suspiros. Primeiro por causa do nome “Spanakópita” (inspirado no pastelzinho grego), ora pro nobis, beldroega e peixinho da horta (planta), servido com molho de beterraba e crocante de folhas de capuchinha.
O terceiro passo foi anunciado no cardápio com uma dedicatória à mãe da chef Valéria Mariotti, a Dona Nilva Mazutti. O prato era o Almeirão roxo refogado, acompanhado de polenta cremosa, lascas de parmesão e azeite de trufas. “É um prato que é parte de minha memória afetiva”, disse Valéria Mariotti. “Para mim polenta não é comida. É um abraço”, disse a chef acrescentando uma pitada de sinceridade emocional ao cardápio das experiências
O quarto passo a servido trouxe o prato surubi envolto em folhas de taioba sob caldo de moqueca e crocante de farinha de mandioca. Não é preciso dizer que o quadradinho de surubi delicadamente enrolado em folha de taioba já era em si uma obra de arte visual, um doce desafio para o paladar e um convite a estar presente no momento nessa altura do experimento de convivência que se tornou o jantar.
Mas nada preparou os convidados para a entrada do quinto e último passo já no quesito sobremesa. A promessa era “pera em calda de feijão borboleta, acompanhado de creme de tapioca. A chef de cozinha e chefe do ambiente trouxe o prato às mesas com uma das pessoas que tinha ajudado na preparação dos manjares. Era o jovem chefe em ascensão Pedro Tenerello.
Foi a hora da segunda pitada de emoção na forma de surpresa daquelas que que arrancam lágrimas. Especialmente para a mãe dele Elaine Tenerello, que até então não sabia que o filho, que escolheu ser profissional de gastronomia, tinha ajudado a preparar tudo o que ela havia experimentado e aprovado. A surpresa da mãe e o encontro inesperado foi celebrado com forte aplauso. Deu para ver que era do coração.
“Agora entendi porque ele saiu sem dizer para onde ia e não aceitar carona” disse a mãe do chefe revelação. A chef Valéria confirmou que todos os pratos tiveram a colaboração dele com exceção do quinto que foi totalmente elaborado por ele.
A professora e consultora do Sebrae, Maria Erni Geich recolheu opiniões anônimas dos presentes sobre o jantar candidato a certificação e recebeu feedback positivo. O biólogo corrobora, apoiando a iniciativa do Sebrae: “Foz do Iguaçu tem total capacidade de absorver e de atender diferentes linhas de eventos com as PANCs, como o da gastronomia e o da saúde, este último tendo como foco a Alimentação Integrativa e Medicina Preventiva”, completa Wilson Fernandes
A ficha tecnica do evento:
Criação e execução do menu: chef Valéria Mariotti
Seleção das PANCs e suporte técnico, biólogo Wilson Fernandes
Cerâmica: Maria Cheung*
Harmonização: Now e Los Haroldos
* Maria Cheung é uma artista plástica iguaçuense por adoção nascida em Hong Kong. Os pratos de cerâmica fizeram parte da experiência foram emprestados para a experiência por ela.
Jackson Lima é jornalista, escritor, historiador em Foz do Iguaçu.