Camara municipal de foz do iguaçu

O turismo precisa de rumo e os políticos de orientação (I)

Esta nota pretende contribuir uma consciencia maior e melhor sobre o turismo da fronteira. Primeiro destacamos uma frase: “Se continuarmos fazendo o que sempre fizemos vamos chegar onde já estamos”  O pronunciador desta frase se chama Álvaro Theisen, engenheiro de Porto Alegre em palestra sobre o turismo em relação à atividade nos 30 Povos das Missões. 

Por Jackson Lima*
Associado à Abrajet PR

Um dos erros do Brasil, responsável por parte da falta de rumo, é a indicação de irmãos brasileiros políticos partidários para certos ministérios ou secretarias. No nosso caso o turismo.  Não que os políticos sejam ruins. O problema é que eles  precisam de orientação. A maioria chega nos cargos e se empolga. Descobrem que o Brasil tem potencial turístico. Que o Brasil é rico. Aí lembram da gastronomia, da cultura, da natureza e das “belezas” e “maravilhas”. Há uma série de mantras que incluem palavras como: divulgação, parcerias intra governos, parcerias público-privadas e outras. 

A maioria desconhece o que já foi feito em governos “anteriores”. Este é um mantra negativo. Quando se fala em governos anteriores é porque alguém vai inventar a roda.  Esquecem por exemplo de programas de governos anteriores como o da Regionalização do Turismo que entre outras coisas definiu 65 “destinos indutores” em todo o Brasil. O Programa foi criado no primeiro governo do presidente Lula. Foz era um desses destinos indutores. Era para ser uma locomotiva da região da Instância de Governança chamada Cataratas e Caminhos ao Lago de Itaipu. O município em si parece não ter entendido o que significava isso e não se interessou. A ADETUR, nome oficial da Instância,  continua nos trilhos sem a locomotiva querer puxar. 

Nessa confusão, as regiões turísticas estaduais sabiamente criadas no governo anterior (do presidente Lula) não são conhecidas ou explicadas ao público que deveria ser o consumidor dos produtos dessas regiões. O Paraná, por exemplo, tem 19 regiões. Quantas sabemos citar de cabeça?   Destaco alguns nomes de regiões que você provavelmente não sabe onde fica:  Corredores das Águas, Ecoaventuras Histórias e Sabores, Entre Matas, Morros e Rios, Lagos e Colinas,  Vales do Iguaçu.   

Outra iniciativa de governos anteriores, falo do primeiro governo do presidente Lula, foi o programa chamado Turismo Rural na Agricultura Familiar (TRAF). Completinho com propostas, roteiros técnicos a seguir e incluía a produção agrícola familiar, junto com a produção de artesanatos, produtos coloniais tudo ligado ao turismo. Esta união era tão bonita que a EMATER se tornou uma especie de atriz importante no turismo. 

Minha intenção não é alfinetar políticos. Isso já é feito. A mensagem é dizer que o político precisa de orientação. As iniciativas criadas pelo primeiro governo do presidente Lula não foram detonadas pelo Presidente Temer ou pelo presidente Bolsonaro. Foram descontinuadas pela presidente Dilma do mesmo partido. O que faltou? No mínimo orientação. A presidente Dilma saiu da área de Minas e Energias. Como entender o turismo sem orientação? Agorinha o presidente Lula precisa de orientação para continuar o trabalho da regionalização inteligível do turismo nos estados que ele começou. 

Tenho a ousadia de dizer que o discurso de trazer investimentos para Foz não é prioridade para o povo de Foz. Pelo menos não do povo que pega os ônibus das linhas Morumbi e Primeiro de Maio.  Em 2013 ou 2014 chegou a ser anunciado que um grupo iria investir em um hotel com  1.300 apartamentos em Foz? É prioridade para o turismo de Foz um hotel de 1.400 apartamentos? Para mim e meus colegas da linha Morumbi-Primeiro de Maio, Foz precisa manter ocupado o ano todo os hotéis que já tem, que estão aptos ou em construção. E não ter um turismo dependente de feriadão.

Precisamos orientar os políticos a pensar na humanização de Foz do Iguaçu. Já estamos recebendo investimentos em abundância e estamos sob a ameaça de sermos transformados em uma cidade claustrofóbica nos próximos anos.  

Às vezes um investimento federal passa por cima de tudo e não é  somente no sentido figurado. Um exemplo disso é a nova ponte sobre o rio Paraná que entra no Brasil pelo Porto Meira. Ela, a ponte, literalmente passou por cima do complexo de  Recepção do Marco das Três Fronteiras que inclui bilheteria, lojas e o espaço Cabeza de Vaca. 

Ninguém fala mas essa intervenção cirúrgica plástica federal reduziu o valor do investimento. Isso só acontecia antes em relação a viadutos quando elas passam por ocupações irregulares quando estão no caminho de obras. Aqui, um investimento federal atropelou um investimento  na modalidade PPP fruto de uma concessão com base na lei. O nome do princípio é isonomia federal. Não existe cota de compras para Foz, ou projeto especial de ponte para Foz do Iguaçu. Até ponto de ônibus em BRs federais segue a cartilha do “igual para todos”. Na redondeza do Centro de Convenções com as obras da duplicação de tudo estão sendo instalados pontos de ônibus estilo federal que não são aqueles pontos verdinhos com fundo de vidro, com bancos vermelhos cuja primeira leva foi financiada pelo Ministério do Turismo para o município na época das “obras para a copa”. 

Para não deixar o assunto da claustrofobia morrer lembremos da questão do novo Porto Seco e onde ele será finalmente estabelecido. Espere atropelo. 

Alguém de Foz do Iguaçu está de olho na estrutura abandonada lá na BR 277 construída em 1997 para a ser um Portal de Foz do Iguaçu e sede de uma série de serviços de liberação aduaneira e migratória segundo a “doutrina” de afastamento das Fronteiras.  

Assim como há patrimônio material e patrimônio intangível, Foz do Iguaçu e a Fronteira também têm “pepino material” (que você conserta e estraga com obras)  e “pepinos de ordem intangíveis”.

O governo do presidente Lula, com certeza, não está sabendo que as filas quilométricas aqui nas Três Fronteiras para entrar na Argentina e as filas para acessar a Ponte da Amizade em direção ao Paraguai já poderiam ter sido resolvidas desde 1997 quando ainda na época da FOZTUR, foi a aprovada no nível do Mercosul o afastamento de parte da estrutura de fiscalização aduaneira (para pessoas e suas bagagens acompanhadas) e migratórias  para longe das cabeceiras das pontes da Amizade e Fraternidade. Para isso foi criado o Polo Internacional Turístico do Iguaçu englobando Foz do Iguaçu, Puerto Iguazu, Ciudad del Este, Franco, Minga Guazu e Hernandarias. Os limites territoriais destas cidades seriam o limite do Polo Internacional. O turista internacional que estivesse legalmente admitido em um dos três países estaria automaticamente legal dentro dos municípios do Polo. 

O Polo foi aprovado pelo Grupo Mercado Comum (GMC), órgão executivo do Mercosul composto pelos ministros de Relações Exteriores Economia e Bancos Centrais de todos os países do Mercosul por meio da Resolução 38/95 e pela Reunião Especializada de Turismo (RET) via Recomendação 4/97. 

Com  a extinção da FOZTUR morreu um dos grandes interessados e baluarte da luta. Ninguém sabe por que e por ordem de quem o Polo Turístico Internacional do Iguaçu foi tirado da agenda da RET  em abril de 2000 durante a RET Número XXXI (31). A situação causou tanta estranheza que a antiga Comissão Parlamentar Conjunta hoje substituída pelo Parlamento do Mercosul recomendou “a imediata retomada das discussões sobre o ‘Iguassu Polo Turístico Internacional’ com total prioridade para a sua consolidação”. A data desta cobrança foi 5 de dezembro de 2002 e o local da emissão do pedido foi Brasília DF. 

Minha obrigação é pedir licença para orientar o Ministério do Turismo que averigue o que acontece e se informe sobre o que aconteceu com este Polo Internacional, por que e por quem foi tirado da pauta ainda no governo Fernando Henrique e também por que as RETs, o Mercosul Turístico perderam tanto espaço. 

Tarde demais?

No começo de julho de 2023 Puerto Iguazu vai sediar a reunião do Grupo Mercado Comum que vão discutir tecnicamente acordos para serem assinados pelos presidente do Mercosul na Cúpula do Mercosul que acontece em seguida. O assunto do Polo Internacional do Iguaçu (Iguazu, Iguassu) poderia estar na agenda se tivesse sido levado à atenção do GMC. Para esta reunião, ficou tarde demais. Mas o presidente Lula ou seja o Brasil assume a presidência do Mercosul agora em julho. O Polo Internacional do Iguaçu poderia ser adotado na agenda e ser entregue daqui a um ano. Quem vai orientar o Governo? 

Na minha cabeça o primeiro nome que vem é o da acessível, simpática e inteligente política e mãe de família Gleisi Hoffmann e o do diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri. Eu oriento você a que oriente os dois nomes citados, como exemplo, a que orientem o presidente a encomendar dos membros do GMC um levantamento do assunto via RET. A novidade nas Três Fronteiras se chama Polo Turístico Internacional do Iguaçu.

*Jackson Lima é jornalista, escritor e historiador em Foz do Iguaçu.
Foto: internet

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