Cinco arapongas apreendidas do tráfico de animais silvestres chegam ao Parque das Aves
As aves estavam sob a guarda do Instituto Pró-Silvestre, que possui sede em Fortaleza, no Ceará, antes de serem encaminhadas para o centro de apoio à fauna silvestre em Foz do Iguaçu, no Paraná
O Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, no Paraná, acaba de receber cinco arapongas (Procnias nudicollis) apreendidas do tráfico de animais silvestres pela Delegacia de Proteção do Meio Ambiente do Estado do Ceará (DPMA). As aves, após a apreensão, ficaram sob a guarda do Instituto Pró-Silvestre (@institutoprosilvestre), uma associação sem fins lucrativos que atua no resgate, reabilitação, proteção, reintrodução e conservação de animais silvestres.
“Entre os membros do Instituto Pró-Silvestre estão biólogos e veterinários, mas também compõe o quadro uma advogada animalista (membro da Comissão da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB em Defesa dos Animais), além de uma policial civil que já atuou fortemente no combate ao tráfico de animais silvestres (quando estava lotada na DPMA). Acreditamos ser substancialmente importante poder contar com parceiros de peso na conservação, como o Parque das Aves, uma vez que poderão receber aves vitimadas para dar-lhes fins de conservação e oferecer a elas uma ótima qualidade de vida”, comenta Karine Montenegro, diretora do Instituto Pró-Silvestre.
Chegada no Parque das Aves
As aves viajaram de avião desde Fortaleza, no Ceará, até Foz do Iguaçu, no Paraná, via transporte solidário da LATAM, não gerando custo algum para as instituições.
“Este apoio à fauna nativa promovido pela LATAM é de imensa importância seja para a conservação ou para o acolhimento de animais vitimados! As aves recebidas aqui no Parque das Aves estão na quarentena, onde vão passar por exames adicionais complementando os já realizados no Instituto Pró-Silvestre. Depois desse período, elas estarão liberadas para viver com aves de espécies variadas em viveiros no Parque”, comenta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.
Em Fortaleza, o grupo de arapongas recebeu acompanhamento e tratamento especializado enquanto esteve no Instituto Pró-Silvestre, de modo que se mantiveram alojadas na Universidade Estadual do Ceará (UECE), em virtude de parceria que o Instituto Pró-Silvestre possui com a referida Universidade.
“O médico veterinário Dr. Bruno Pessoa, atualmente membro do Instituto Pró-Silvestre, realizou, junto a uma equipe de veterinários da UECE, o tratamento das aves desde o dia da apreensão até a ida delas para o Parque das Aves, no final de outubro. Estamos muito felizes que agora estejam recebendo toda a atenção da equipe do Parque”, comenta Karine.
Após o tratamento e recuperação da saúde das aves pelo período de aproximadamente 10 meses, o Instituto Pró-Silvestre acionou o CETAS/CE do IBAMA para que viabilizasse a ida das aves ao Parque das Aves. O IBAMA, por ser também um forte parceiro do Instituto Pró-Silvestre, viabilizou as tratativas formais para que as aves embarcassem para Foz do Iguaçu.
“Parcerias como esta são de extrema importância, seja para a conservação, seja para o acolhimento da fauna silvestre brasileira. O Parque das Aves trabalha com educação ambiental, para que as pessoas entendam as consequências desastrosas do tráfico de animais silvestres, mas seguimos incansáveis também no resgate, abrigo e conservação de aves da Mata Atlântica. E esse trabalho só é possível devido às parcerias com diversas instituições. Precisamos sempre somar esforços para atuar de forma mais eficaz”, reforça Paloma.
Denúncias salvaram as aves
Uma parte importante do combate ao tráfico de animais silvestres, além da população não comprar aves de procedência ilegal, é a denúncia de atividades suspeitas.
“É muito importante destacar que todo o êxito da operação da (DPMA só foi possível porque houve denúncia por parte da população. Isso demonstra que é importante as pessoas tomarem parte no problema grave que é o tráfico de animais silvestres no nosso país e sempre denunciarem os infratores que identificarem. Preservar a fauna silvestre é preservar nossa própria existência!”, comenta Karine.
O grupo de arapongas foi resgatado depois que denúncias foram feitas pela população em dezembro de 2021.
“Foram realizadas denúncias a respeito de um grande traficante no Ceará que estava comercializando várias aves da fauna brasileira, dentre elas 16 arapongas. Diante disso, a DPMA conseguiu capturar o traficante e apreender as aves vítimas de tráfico”, comenta Karine.
Cantoria que pode levar a espécie à extinção
Além de bela, com sua plumagem branca e detalhes verde-jade, a araponga é famosa por seu canto potente, que parece o martelar de um ferreiro. E, infelizmente, essas características tão marcantes trazem consequências ruins à espécie, que se tornou muito visada por traficantes.
“É doloroso afirmar que os atributos de uma ave são os culpados pela retirada ilegal de indivíduos de seu ambiente natural. Que culpa a ave tem de ser bela e cantar bem? Nenhuma. E nós, seres humanos, deveríamos nos unir e trabalhar juntos para mantê-la em seu local de origem, para que prospere e cumpra seu papel ecológico”, comenta Paloma.
“Se pensarmos bem, retirar a função ecológica de espécies em seu habitat de ocorrência é retirar da humanidade o direito de possuir ecossistemas vitais para o equilíbrio ambiental. Levando-se em consideração a Convenção de Haia, da qual o Brasil é signatário, a ruptura do equilíbrio ambiental de um ecossistema vital para o bem-estar social pode representar até mesmo um crime contra a humanidade”, salienta Karine.
Além do tráfico, a espécie ainda sofre com o desmatamento, que vem aumentando nos últimos anos. “Segundo dados do SOS Mata Atlântica, apenas no primeiro semestre de 2022, mais de 21 mil hectares de floresta foram desmatados na Mata Atlântica, a casa da araponga e de tantas outras espécies. Isso equivale a mais ou menos 117 campos de futebol desmatados por dia”, reforça Paloma.